sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Senti um Vazio..." de Lucy Kirkwood | Casa da Esquina | Coimbra


Nota do encenador
“Um quarto só para si” título do livro de Virgínia Woolf serviria na perfeição como título deste espectáculo surgido de uma circunstância particular, uma encomenda da Associação Saúde em Português. Aliás todas as criações da Casa da Esquina surgiram de circunstâncias, de tangentes com criadores que por cá passaram e que tiveram de abandonar Coimbra, de magros apoios pontuais de quem vê a Cultura como um fardo.
A nossa estratégia foi e ainda é de sobrevivência, tal como Virgínia Wolf no seu quarto, tal como Dijana, personagem principal da peça “Senti um Vazio”, resistindo a tudo para continuar a existir, apoiando-se nos seus sonhos para não desistir.
É de sonhos que falamos nesta criação, os sonhados e os destruídos. Da esperança num futuro melhor que nunca chega.
Nas últimas criações andámos perdidos pelos espaços públicos a perceber como nos relacionamos uns com os outros, com o quotidiano, a cidade, a questionar o nosso modus operandi, a reflectir sobre o Nós (os fazedores) e os Outros (o público).
Mas desde o projecto AMIW (All My Independent Women 10) levado a cabo pelas nossas Carla Cruz e a Filipa Alves, que temos trabalhado sobre as questões de género, e nesta criação em concreto, sobre a exploração sexual e tráfico de mulheres.
Durante as pesquisas para o trabalho descobri a peça da Lucy Kirkwood, e passei-a à Helena Freitas, a actriz e pessoa certa para este trabalho, e assim, decidimos acolhe-la na nossa Casa.
Esta peça, que foi premiada com o Whiting Award , foi escrita ao fim de 2 anos de trabalhos de recolha de testemunhos de mulheres vítimas de tráfico sexual e que se encontravam em centros de detenção e foi levada à cena pelo Clean Break (http://www.cleanbreak.org.uk) no Arcola Theatre em 2009.
Quisemos contar esta história confrontando-a com o nosso espaço, um espaço não convencional, e é deste confronto que surge a experiência performativa, originado novas leituras sobre a estória de Dijana e a história que contamos, movendo-nos entre a sua realidade e os seus sonhos.
É um projecto intimista que permite ao público uma experiência próxima da pele, à medida que a personagem ganha consciência da sua realidade através da narrativa que desfia, narrativa comum a qualquer uma das numerosas histórias de vítimas de tráfico sexual. Não sabemos se é a vida que imita a arte.
É um projecto à nossa escala, pequeno, de trazer por Casa, que se agrega em torno de vontades individuais, para nos constituirmos e criarmos no aqui e agora, nestas circunstâncias. É assim que sabemos estar na Vida e na Arte. Não somos um colectivo nunca o quisemos ser. É essa a nossa liberdade.
Ricardo Correia

Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2011

Cartaz

Sinopse
A história de Dijana é só mais uma entre as muitas que se repetem todos os dias por todo o mundo. Esta é a vida de uma rapariga vítima de tráfico humano numa viagem de um triste conto de fadas desde o seu apartamento- o seu quarto de trabalho- para a sua cela na prisão.
Dijana é uma bonita jovem Croata que vem para Portugal à procura de uma vida melhor e é imediatamente vendida pelo seu primo ao sinistro Vlad, o qual se torna seu namorado e logo depois o seu chulo.
“Eu sei exactamente quanto é que eu valho”, diz Dijana,“ Eu valho mil euros que foi o que o Vlad pagou por mim. Mais ou menos dois I-Phones e meio”. Enquanto isso, faz as contas e espera poder um dia saldar a sua dívida e reaver o seu passaporte.
A peça escrita por Lucy Kirkwood não utiliza subterfúgios nem universos paralelos para explicar um flagelo que se repete todos os dias em todos os lugares e passível de acontecer a todas as mulheres que num país desconhecido tentam encontrar um futuro melhor.

De 19 a 26 de Fevereiro às 21h30
Local de apresentação: Casa da Esquina
Reservas a partir das 16h30: 239041397 / 929090628

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