Não sei de onde vem mas já vi reclamar o pensador como legítimo representante da arte de pensar e filosofar em muitos lugares. Trata-se de um homem sentado com as pernas flectidas e os calcanhares junto aos ossos da bacia. Hei-de tentar fazer um desenho para que possam apreciar. Dessa forma o homem tem a cabeça entre as pernas e um olhar distante pois está a pensar.
Muita gente tem vendido este pensador como o pensador africano: aquele que pensa de entre as suas pernas magras, as tíbias e os fémures alongados, os cotovelos fincados no chão com as mãos chegando e segurando os pensamentos da cabeça de cabelo curtinho, às vezes rapado.
Hoje de manhã ao vir para o Cruzeiro do Sul deparei-me com um outro pensador. Artisticamente falando este aqui é a cores e a três dimensões. Usa uma camisa aos quadros desbotados de vermelho e branco e uma calças da cor do cimento dos passeios das avenidas. Pensava absorto, se calhar não. Pensava seriamente e com os olhos além para além do além. Isso sim, não posso mentir, estavam bem abertos e cheios de actividade.
O corpo estava deitado em cima de um cartão no meio do passeio da rua Mártires da Machava com orientação norte/sul e de barriga colada entre o chão e o cartão. De bruços, repousava os ombros numa garrafa cheia de água. A única coisa que eu já lhe conhecia eram os cotovelos fincados no chão mas sem segurarem a cabeça estavam apenas a continuar os braços e os antebraços.
Ai se eu soubesse desenhar este pensador e fazer réplicas em madeira de umbila, pau-rosa, pau-preto, ébano, sei lá, acho que poderia enriquecer-me de todos aqueles pensamentos que além do além dos seus olhos diziam que para além das saudades das pessoas ficam também a roer as saudades da cidade de chanfutas e acácias e da guerra popular que sobe e desce nas ruas e nas veias do meu coração.
E amanhã virá o frio.
Vossa
T
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